Opinião

Ex nihilo nihil fit (nada vem do nada)

Por Rubens Amador
Jornalista - [email protected]

Na última quarta-feira, o Colégio Pelotense, a maior escola municipal da América Latina, completou 116 anos de funcionamento ininterruptos. Muitos nomes importantes saíram de seus bancos. O Pelotense foi nossa primeira escola de democracia, pois lá estudavam e eram amigos judeus, negros, descendentes de várias nações. Nós éramos como irmãos. Sempre prontos para ajudarmos uns aos outros. Tivemos uma plêiade de professores que talvez só ao Pedro II, no Rio, podíamos ser comparados.

Já disse uma vez, mas não custa repetir: fomos alunos do grande Francisco de Paula Alves da Fonseca, inexcedível no Português, e de seu irmão professor Joaquim, na matemática. Nosso professor de francês era um parisiense, o Dr. Júlio Delanoy. Engenheiro civil. No idioma inglês, era um dos poucos brasileiros que falavam inglês sem sotaque: O professor Mr. Souza (Adolfo Souza), que trabalhara nos Estados Unidos por 18 anos na Academia de West Point. Nosso professor de canto orfeônico era o maestro espanhol Valeriano Olivares, autor de inúmeras peças para piano. No latim tínhamos três inexcedíveis professores: O Dr. Augusto Pinto, advogado (um gênio), o Dr. José Balreira, médico, ambos egressos de Coimbra, e o professor brasileiro Dr. Felisberto Machado, que deu-nos uma aula em latim quando o time áureo-cerúleo do seu coração venceu o campeonato. A aula chamava-se Balípodo (bola no pé). No desenho, tínhamos o advogado Dr. Gastal, que foi aos EUA se aperfeiçoar. Ensinou-nos tudo sobre as colunas gregas. E tinha um notável professor chamado Dr. Raul Iruzun, que nós chamávamos de Coringa, pois faltasse o professor que faltasse ele dava a aula com perfeição. Na história era o Dr. Apody de Oliveira, advogado, exigente. Nosso professor de geografia era também o advogado Dr. João Mendonça. Tinha todos os mapas com perfeição em seu cérebro.

Depois recebíamos aulas do cientista polonês Dr. Ceslau Maria Biezanko, seu nome aparece nos compêndios universais da entomologia, dado a inseto que descobriu: o “Biezankoia Brasilienses”. Na ginástica tínhamos um suíço: O Sr. Roberto Müller. Daí “nada vem do nada”. Depois recebo outro atencioso telefonema do grande professor, respeitado por seus colegas odontologistas, o Dr. José Valente Tavares, Gato Pelado da velha guarda. Recordou todos os mestres que estou sempre lembrando e que também foram seus professores. E trouxe o nome de outros dois, o Dr. Kramer Lima e o Dr. Von Ameln. Entretivemos agradável palestra sobre o nosso Templo ginasial. Preciso falar de meu grande amigo e ex-colega Luis Carlos Zanotta da Cruz. Ele é um dos mais marcantes Gatos Pelados. Perguntou-me se todos os que me telefonaram sabiam o “Ventus Corruptus”. Respondi-lhe que sim, pois todos se reportaram aquele verso engraçadíssimo, em latim, que aprendíamos, não nas aulas regulares, mas lá no pátio, em meio a risadas.

Desejo encerrar com uma passagem muito conhecida dos Gatos Pelados de então e que foi protagonista o nosso querido amigo Luiz Carlos Zanotta da Cruz, já falecido. Tinha um Inspetor de alunos, pessoa boníssima que era oriundo do nosso interior, e muito benquisto por todos nós. Um belo dia este cidadão se casa. O Luiz Carlos, que sempre foi de brincadeiras inteligentes, ao voltar o funcionário de sua lua de mel, pergunta-lhe ao revê-lo, com uma ponta de picardia: “Como está, seu fulano? Forte, belo e rijo? Como está sua senhora?" O inspetor fechou o cenho e retrucou: “Menino, mais amor e ‘menas’ confiança.” Ao que o Luiz Carlos se defendeu: “Escute, eu não quis ofende-lo, mas ‘menos’ é advérbio e não ‘vareia’!" Ambos deram-se por satisfeitos. Só a turma caiu na risada e rimos muito ainda hoje, quando nos reunimos, e indefectivelmente o assunto é sempre relembrado.​

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Anterior

Ainda falta bastante

Próximo

Angústia e cobertura policial

Deixe seu comentário